
Abençoadas tarefas espíritas
Alessandro Vieira Viana de Paula

Neste ano comemoram-se os 160 anos de fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que ocorreu em abril de 1858 e tornou-se o primeiro Centro Espírita do mundo, tendo Allan Kardec sido presidente até a sua desencarnação (31 de março de 1869).
Com supedâneo nessa data comemorativa, parece-me oportuno reavaliar as bênçãos e os aprendizados que decorrem das tarefas assumidas e vivenciadas no Centro Espírita, e o quanto isso colabora para o equilíbrio e a conduta eticamente saudável do espírita, o qual, conforme orientou Jesus, deve viver no mundo sem ser do mundo [1].
A experiência nos mostra que é de vital importância para o indivíduo frequentar seriamente um templo, abraçando, também, as tarefas religiosas, a fim de que fortaleça a fé e desenvolva forças morais para enfrentar os desafios existenciais, sem perder o rumo da própria vida.
O Centro Espírita nos propicia a oportunidade do estudo, da tarefa mediúnica, do serviço do passe, do atendimento fraterno, as atividades de organização e manutenção da instituição, o trabalho voluntário, enfim.
Quantos aprendizados num grupo de estudo!
O aprendizado intelectual, decorrente da leitura e dos comentários do livro em pauta no grupo; o desafio da relação de convivência entre os frequentadores do estudo, a fomentar o exercício das virtudes; o surgimento e o fortalecimento dos laços de amizade; o preparo prévio dos frequentadores, lendo, antecipadamente, a lição que será objeto de estudo; a fala preparada e inspirada do dirigente; a correlação dos tópicos do estudo com os desafios atuais, individuais e coletivos.
Os frequentadores desses grupos devem sentir uma profunda alegria e gratidão quando chega o dia dessa reunião no Centro Espírita. Se isso não ocorre, o integrante deve descobrir o porquê e promover as retificações íntimas necessárias.
Certa feita, um espírita nos disse que há vários meses deixara de frequentar os estudos, mas que estava lendo bastante em casa, e perguntou se isso era normal.
Naturalmente respondi que não era correto, porque as leituras em casa não substituem os estudos do Centro Espírita. E citei um discurso de Allan Kardec, no qual é enfatizada a importância de estarmos presentes nos templos religiosos, nos quais há a comunhão de pensamentos que auxilia, por exemplo, na recuperação das perdas fluídicas.
O nobre Codificador ainda destaca que o isolamento religioso conduz o indivíduo ao egoísmo e que não se pode dispensar os conselhos na vida presente, o que significa que nos grupos de estudo ocorrem muitas falas e comentários inspirados, felizes, não apenas do dirigente, mas também dos frequentadores, que colaboram no desenvolvimento das lições, úteis para o nosso equilíbrio e serenidade interior.
Quantas lições extraordinárias colhidas numa tarefa mediúnica!
Os grupos mediúnicos equilibrados, compostos por médiuns devidamente preparados, conscientes da responsabilidade assumida, propiciam imensuráveis lições para seus componentes. Desde os aprendizados morais da convivência num grupo até as lições que vertem do intercâmbio com os Espíritos.
Sejam as comunicações dos Espíritos nobres, sejam os relatos dos Espíritos em sofrimento, tudo se converte em aprendizados e advertências oportunas para os que estão presentes, servindo de luz e roteiro para a vida.
Quanto é gratificante servir nas tarefas dos passes!
O aplicador de passes, após a devida qualificação, passa a doar seu fluido pessoal em prol de outras pessoas (seu fluido pessoal é combinado com o fluido dos Espíritos, gerando um fluido misto, que beneficiará o atendido), de forma que vai desenvolvendo o sentimento de caridade e, com o seu melhoramento moral, vai sublimando seu fluido.
Essa tarefa lhe faculta a concentração e a sintonia com a Espiritualidade Superior, que será útil em muitos desafios da vida, momentos em que temos que tomar decisões importantes, onde podemos buscar a inspiração superior, lembrando que a decisão será sempre nossa em razão do livre-arbítrio, até porque, os bons Espíritos nunca impõem, apenas sugerem.
O aplicador de passes comprometido com a tarefa ainda leva sua irradiação fluídica e, estando consciente e acostumado a ofertar seus recursos fluídicos, poderá, no dia a dia, beneficiar, silenciosamente, inúmeras pessoas carentes desse tipo de socorro, não se permitindo entrar em sintonia com as energias de baixo teor a lhe comprometer a saúde física e moral.
Quantas bênçãos e consolos no labor do atendimento fraterno!
O espírita que dedica parte do seu tempo a ouvir pessoas em sofrimento e/ou com dúvidas, que comparecem no Centro Espírita, vai desenvolvendo a arte de ouvir o próximo e de sentir quando um irmão de jornada evolutiva está aflito.
Na atualidade, vivemos num mundo de correrias e de agitações, de forma que poucos cessam seus afazeres para notar a dor do semelhante.
Muitas vezes, as pessoas sofridas estão em nosso lar, ou são alguns dos amigos do trabalho, ou são do nosso círculo de amizades, e sequer notamos.
O servidor do atendimento fraterno, possivelmente, identificará esses irmãos aflitos e terá a abençoada oportunidade de ouvi-los e orientá-los, à luz do Cristianismo Redivivo, propondo-lhes novas perspectivas, otimistas e consoladoras, embasadas nas lições inesquecíveis do Cristo.
Quanta felicidade em poder servir nas tarefas mais simples, mas não menos importantes do Centro Espírita!
Há incontáveis confrades espíritas que auxiliam na recepção das pessoas, na organização das filas de passes, na entrega de mensagens, na limpeza das salas, tarefas imprescindíveis para o bom andamento do Centro Espírita.
Esses confrades vão desenvolvendo disciplina porque sabem que assumiram tarefas e precisam dar conta delas. Aprendem que as pequenas realizações são importantes para o equilíbrio do conjunto.
Pessoas há que apenas valorizam e desejam realizar as grandes tarefas, e algumas delas, impulsionadas pelo orgulho, estão mais preocupadas com o reconhecimento que terão.
O espírita que se dedica a essas tarefas vai percebendo, no cotidiano, a importância de colaborar também nos afazeres menores, até porque aprendeu com Jesus que primeiro é preciso ser fiel nas pequenas obras para depois sê-lo nas maiores [3].
Quanto aprendizado e paz hauridos nos labores da caridade!
Há inúmeros Centros Espíritas que mantêm obras assistenciais ou grupos de voluntários que atuam em determinados locais (hospitais, asilos, entregas de cestas básicas).
O espírita, tocado pela mensagem de amor de Jesus, passa a aderir a essas tarefas caritativas, percebendo que há muita carência material e espiritual a serem atendidas. Também identificará a alegria e a paz que tomará conta do seu íntimo após minimizar a carência alheia.
Perceberá, ainda, que essa vivência lhe trará um aprendizado notável, isto é, aprenderá a reclamar menos da vida, porque sabe que há pessoas que sofrem muito mais e algumas delas vivem alegres e sem queixas.
No mundo atual, há muita depressão, vazio existencial e reclamações, de tal sorte que o espírita, empenhado no labor da caridade, viverá com alegria e sem lamúrias improdutivas, deixando um bom exemplo para que outros identifiquem a beleza do trabalho voluntário e seus nobres reflexos em suas vidas.
Dessa forma, verificamos como são abençoadas as tarefas espíritas e felizes aqueles que as assumem com seriedade e amorosidade, superando a rotina e o automatismo que tendem a surgir após algum tempo.
Nestes tempos desafiadores e complexos, em que notamos a presença do materialismo sob diversos matizes, do individualismo, da busca do prazer desenfreado, do crescimento da depressão e do suicídio, temos que agradecer a veneranda religião espírita em nossas vidas; igualmente valorizar as nobres tarefas que existem no Centro Espírita, que nos aprimoram e nos plenificam, a fim de que possamos transitar no mundo e com outras pessoas, levando a nossa luz e a mensagem do Cristo através das nossas escolhas, ideais e condutas.
Foi Jesus quem nos ensinou: Brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos Céus [4].
Reflitamos sobre as bênçãos de trabalhar na vinha do Senhor nestes tempos de transição.
Referências:
[1]. BÍBLIA, N. T. João. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 17, vers. 11-14.
[2]. KARDEC, Allan. Revista Espírita, dez. 1868. Sessão Anual Comemorativa dos Mortos.
[3]. BÍBLIA, N. T. Lucas. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 16, vers. 10.
[4]. Op. cit. Mateus. cap. 5, vers. 16.
Fonte: Jornal Mundo Espírita (Dezembro 2018)